Em Espanha a Lei do Desporto de 1990 ditava que todos os clubes se deveriam converter em Sociedades Anónimas Desportivas (SAD). Esta necessidade surgiu da falência de quase todas os clubes, devido aos elevados impostos e custos de gestão. A solução parecia simples: os clubes apenas teriam que se preocupar em gerir correctamente o seu dinheiro. Nessa altura todos os clubes eram associações onde, nem os sócios, nem os administradores respondiam com o seu património para colmatar as perdas financeiras que se registavam repetidamente.
Mas a realidade veio demonstrar que a solução não era tão fácil como se previa. A maioria das SADs, tiveram dificuldades económicas, entrando inclusive no sistema de pagamento de dívidas do Governo Espanhol (Lei Concursal) para não verem os seus clubes terminarem. Foram os casos do Hercules, Logroñes, Compostela, Oviedo, Las Palmas, Sp. Gijon, e Real Sociedad. No panorama internacional também existem fracassos económicos de clubes que se converteram em SADs, como são os casos do Borussia Dortmund na Alemanha e da Fiorentina e Parma em Itália.
Das quatro equipas Espanholas que permaneceram como associações desportivas, foi-lhes imposto que os seus dirigentes fossem responsabilizados pela sua gestão. Mas mesmo assim clubes como o Real Madrid ou FC Barcelona não evitaram o aumento das suas dívidas. Ainda assim, clubes que foram transformados em SADs, como os da Premier League, continuam a conseguir êxitos desportivos, sendo a grande parte das suas dívidas provenientes dos empréstimos que os proprietários contraíram nas aquisições dos clubes. Apesar de todas as SADs serem supervisionadas por autoridades financeiras como a CMVM em Portugal e a CNMV em Espanha, em ambas as situações os adeptos perderam a sua capacidade de influência nos clubes, onde o capital passou a concentrar-se em poucos accionistas.
Uma alternativa são as SADs mistas Portuguesas, onde podem existir diversos accionistas, mas a maioria do capital está nas mãos dos clubes. (Sabemos nós Portugueses, que também este sistema não resulta Luís Carlos, pois as dívidas dos clubes em Portugal continuam a aumentar, existindo mesmo uma série de clubes sem dinheiro sequer para pagar aos seus jogadores). Algo que também ocorre na Bundesliga, onde os clubes são geridos por duas entidades; a direcção do clube por um lado e gestores financeiros e comerciais por outro. Nos clubes Alemães estes gestores financeiros e comerciais podem mesmo ser empresas privadas, como é o caso da SPORTFIVE que gere grande parte do comércio dos clubes na Alemanha. Este sistema também não está isento de riscos como foram os casos da falência dos clubes Argentinos, Quilmes e Racing Avellaneda.
Agora que se discute uma nova forma de organização para os clubes profissionais, não se devem esquecer os erros cometidos no passado, onde os clubes abraçaram cegamente o modelo SAD. No entanto não podemos esquecer que o dinheiro e o desporto são duas faces inseparáveis da mesma moeda que se chama futebol.
Luis Carlos Sánchez - Analista Económico, Espanha
In "www.futebolfinance.com"
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