A semana esportiva ficou marcada por um rebuliço no baixo clero do futebol português. Uma simples decisão da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) vai redistribuir as peças dos tabuleiros dos campeonatos profissionais do país. Tudo porque, como o leitor já deve saber, o Estrela Amadora teve sua inscrição rejeitada para participar da Primeira Divisão na temporada 2009/2010. Motivo: inadimplência. O pequeno clube dos arredores de Lisboa simplesmente não conseguiu pagar nenhum salário a seus atletas desde o ano passado. E ainda acumulava dívidas com o Fisco e a Segurança Social.
O Estrela até tentou efetuar uma manobra para inscrever uma nova SAD (Sociedade Anônima Desportiva) na Liga de Clubes. Não foi possível. Com a recusa, não poderá sequer participar da Liga de Honra (Segunda Divisão) – também organizada pela Liga. Será relegado à terceira divisão, primeiro escalão não-profissional do futebol português. E olha que, dentro de campo, o clube até cumpriu uma campanha surpreendente na última temporada, chegando a disputar a semifinal da Taça de Portugal (só foi eliminado pelo todo-poderoso Porto) e terminando o Campeonato Português em 11º lugar.
Quem saiu no lucro com a decisão da Liga foi o Belenenses, que havia sido rebaixado (terminou o campeonato no antepenúltimo lugar). O clube do Restelo foi convidado a ocupar a vaga do Estrela Amadora e, pela terceira vez, beneficia-se da desgraça alheia após sofrer o rebaixamento. Em 1987, um imbróglio provocado pelo Marítimo (“caso Mapuata”) fez com que a Federação Portuguesa de Futebol inchasse o campeonato de 16 para 20 clubes, o que manteve o Beleneses na Primeirona. Em 2006, a inscrição incorreta do angolano Mateus rebaixou o Gil Vicente e trouxe o Belenenses de volta.
Vários clubes encontram-se sem destino
Com a “não-descida” do Belenenses, abriu-se uma vaga para o Boavista permanecer na Segunda Divisão – ele que havia ficado em antepenúltimo lugar na temporada passada e que também havia sido rebaixado. No entanto, antes da decisão desta semana, o clube axadrezado já tinha anunciado que também não poderia disputar competições profissionais em Portugal, devido a dívidas atrasadas das temporadas anteriores (há vários salários em atraso, além de débitos com o Fisco).
A situação do Boavista e do Estrela Amadora coloca a nu, desse modo, a situação pré-falimentar e cheia de desigualdades que o futebol português persegue nos últimos anos. De um lado, salários e contratações milionárias, como o Benfica vem praticando nos últimos meses; de outro lado, clubes que se arrastam com suas finanças e que não conseguem pagar míseros salários a seus atletas. Além de o Estrela Amadora ter sido impedido de disputar a Primeira Divisão na próxima temporada, cabe referir que outros dois clubes têm inscrições provisórias na Liga: é o caso do Leixões, na Primeira Divisão, e do Estoril, na Segunda, que ainda não entregaram as certidões do Fisco e da Segurança Social.
Para completar o noticiário negativo do futebol português da última semana, resta dizer que a eleição presidencial do Benfica neste dia 3 de julho corre o risco de sair das páginas esportivas do noticiário e ganhar as páginas policiais. O atual presidente, Luís Filipe Vieira, renunciou ao cargo e antecipou a realização das eleições. Segundo seus detratores, a manobra tinha como objetivo não permitir a articulação da oposição. Certo é que a data do pleito foi confirmada. Agora, o único candidato oposicionista, Bruno Carvalho, conseguiu uma decisão do Tribunal Cível de Lisboa que invalida a candidatura de Luís Filipe Vieira, por alegado descumprimento dos estatutos do clube.
Vieira é o favorito dos sócios benfiquistas e conta com o apoio de algumas lideranças. O ex-presidente Manuel Vilarinho, que preside a Assembléia Geral do clube, confirmou a realização das eleições no dia 3 de julho, alegando que o pleito não pode ser susceptível de suspensão, nem de impugnação. Mais uma vez, a cisão do poder no Benfica e a guerra pelo comando do clube explicam um pouco por que os encarnados deixaram de lado o protagonismo de que desfrutavam até a metade da década passada.
Texto: www.trivela.com
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