Muitos amigos meus, portistas em especial, têm denotado uma preocupação especial quanto a um jogador do seu clube: Mariano González.
O argentino, de facto, é um estudo de caso. Entre trabalhador, lutador, dinâmico, tosco, pouco confiante, sortudo, azarado, etc., etc., ex-internacional argentino, ex-titular no Inter, são imensos os adjectivos e estatutos que lhe vejo atribuídos. Eu próprio, tenho uma posição de total desconfiança quanto à sua qualidade. Por vezes é "menos um", outras "o melhor", mas ao fim de pouco mais de 2 anos a jogar, subsiste a dúvida sobre a sua valia (em euros, à volta dos 4.5 milhões, na equipa......???). Mas, na verdade, Jesualdo Ferreira é quem trabalha diariamente com ele, e por isso deve ter razões para contrariar uma opinião que me parece ser transversal à maior parte dos adeptos azuis e brancos: não é jogador para o FC Porto.
Sendo assim, resolvi fazer um primeiro exame, nada científico, mas exaustivo. Analisei o argentino num jogo que, à partida poderia ser bom para o efeito, pois o FC Porto seria favorito mas com um adversário de dificuldade acima da média dada a motivação da competição: o último FC Porto x Apoel Nicosia, da Champion's League.
Eis o resultado, ao estilo "gameplay"
- Jesualdo colocou-o no lugar que deveria estar destinado ao lesionado "Beluschi", a medio interior direito. Não é a posição de raiz, mas tudo bem...
- 5 minutos: com o jogo a desenrolar-se mais pela esquerda, foi solicitado 3 vezes, a ter que jogar para trás, mais dois passes sobe pressão para os colegas, que acabaram por se perder.
- 10 minutos: um passe sob pressão, novamente falhado. Apenas 20 metros de corrida com bola, uma vez, inconsequentes pois teve que se apoiar em Hulk para progredir. Aliás, Hulk tem estado muito recuado o que retira trabalho e lógica à tarefa de Mariano em termos ofensivos. Por outro lado, Fernando, está a cair bem para o seu lado, defensivamente, pelo que até agora o trabalho defensivo do argentino é nulo.
- 20 minutos: muito pouco se viu. Com Fucile a subir, e Hulk a recuar, Mariano continua perdido a médio interior direito, limitando-se a tentar fechar linhas de passe a um Apoel que escolhe a sua ala esquerda para tenuemente esboçar ataques. Neste aspecto, Mariano fecha bem pois não pára de correr dando uns 4 metros apenas de espaço ao jogador cipriota que partir com a bola. Quando solicitado ao ataque, mais 4 passes, dois para perder a bola, um a obrigar Fucile a perder tempo de ataque, e um curto certo. Também é verdade que a defesa do Apoel o pressiona bastante. Devem saber que as suas recepções são lentas e algo "atabalhoadas"
- 21 minutos: golo do Apoel, sem interferência do argentino
- 30 minutos: Fucile subiu mais, e Hulk também. Mariano começa a pegar na bola mais atrás, e menos pressionado faz melhores passes. Um, muito bom, a rasgar por entre dois defesas, desmarcando Hulk. Sem pressão, não falhou passes, e dos 6 que fez, 4 foram para trás, quando mais pressionado.
- 33 minutos. Golo do Porto (1:1), sem interferência do argentino.
- 45 minutos: Fucile continua a subir, muito colado à linha lateral, e a apoiar bem. Mariano cobre-o bem defensivamente, pressionando o portador da bola do Apoel. Assim, joga mais defensivamente do que ofensivamente. Desmarca uma vez Hulk, em passe curto, e falha na outra tentativa. Numa jogada de Rodriguez pela direita (38'), assistindo à entrada o argentino, este faz o seu primeiro remate, muito perto do poste direito. Aos 42', recupera uma bola perdida infantilmente pelo Apoel, e remata com perigo junto ao poste esquerdo. Está a ocupar bem os espaços deixados vazios pela desconcentração cipriota após o golo.
Segunda parte
- Jesualdo coloca Rodriguez a médio interior, deslocando Hulk para a esquerda. Mariano, que vinha a posicionar-se melhor no final da primeira parte, passa a jogar a extremo direito, posição de raiz.
- 48 minutos: penalty a favor do Porto. Mariano não tem interferência, e os dragões fazem o 2:1
- 55 minutos: a pressionar muito bem o lateral esquerdo cipriota, impede a progressão de jogo do Apoel por esta banda. Ainda compensou bem, defensivamente, uma subida falhada de Fucile. No ataque, é desmarcado por Rodriguez uma vez, mas não tem corpo para os defeses e não consegue receber. Finalmente, uma desmarcação por Fucile, recebe bem, foge ao adversário e serve Falcao no centro, acabando a jogada por criar perigo para o Apoel.
- 65 minutos: o Apoel equilibra o jogo, passa a subir, e Mariano perde funções ofensivas. Começa a ser o primeiro defesa na ala direita, cumprindo bem a tarefa. Consegue, inclusivamente, um tackle bem sucedido, mas no contra-ataque perde a bola no um para o central.
- 68 minutos: o Apoel instala-se no meio campo do Porto, e concentra os ataques pelo centro do terreno. Os portugueses passam a jogar em contra-ataque. Mariano perde qualquer influência no jogo. Limita-se a correr junto com o lateral direito e a tentar impedir a circulação de bola. Não consegue cortar nenhum passe. Jesualdo tira Rodriguez e mete Guarín. Falcão passa a vir mais atrás buscar jogo.
- 73 minutos: Acabado de se transferir para a ala esquerda, num momento em que recebe a bola e a tenta segurar, num lance dividido com Satsias "estica o braço", e sem qualquer agressividade mas num gesto que sugestiou o árbitro, é expulso.
Acaba a lógica da análise, da pior forma. O FC Porto viu-se com menos um jogador, num momento em que defendia a vantagem mínima e o adversário instalara-se no meio campo portista.
Conclusão pessoal: Enquanto em campo, foi pouco útil. Hulk e Fucile, por si, fazem muito bem a ala, e Mariano vai compensando os espaços que ficam vazios, mas sem arte para desiquilbrar, como por exemplo Rodriguez teve quando na segunda parte passou a ocupar essa função. Cabe a Jesualdo reflectir, na minha opinião, se faz sentido Mariano jogar nessa posição, com ou sem Beluschi lesionado. Não haverão médios mais possantes no plantel?
Efectivamente, Mariano foi melhor para travar as subidas do lateral, quando na posição de ala. Contudo, pouco determinado e desiquilibrador quando com a bola nos pés, limitando-se a jogar para 3 ou 4 metros ao lado. Em todo o jogo, apenas um passe longo bem medido e sucedido, e dois remates. Parece-me muito pouco, mas Jesualdo lá sabe....
1 Responses to Examinando.... Mariano González
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Excelente post ;)
Deixa-me só acrescentar onde, na minha opinião, reside o maior problema deste argentino. Como Jesualdo diz e bem, ele é um dos jogadores mais inteligentes a nível táctico do seu plantel, mas é mesmo muito fraco psicologicamente, comete um/dois erros e lá se apaga a sua "chama" para todo o restante encontro, é incrivelmente difícil motivar um jogador como este e compreendo perfeitamente que para Jesualdo Ferreira este caso seja um verdadeiro desafio!