O jogo jogado ou o árbitro?

É recorrente esta ideia transmitida pela opinião publicada/televisionada: discute-se o jogo jogado ou as influências que a arbitragem possa ter num desafio de futebol ao mais alto nível?

O Benfica-Porto, visto do lado da vitória encarnada, relega para segundo plano a costumeira atitude persecutória de Lucílio Baptista em relação aos portistas, em nome de um futebol aparentemente avassalador dos lisboetas. Em caso contrário, como sucede amiúde, põe-se em causa o resultado, a superioridade do FC Porto, a idoneidade do árbitro, a seriedade do nomeador, a integridade da Liga enquanto gestora desta tasca mal frequentada.

O Benfica ganhou e decretou-se que “bem”. Não houve nenhuma ocasião de golo, por muito que cantem, de qualquer das equipas. Num lamaçal a corresponder ao que se tornou o futebol em Portugal – algo que já não se discute, ao contrário de há um ano precisamente por esta altura pré-natalícia em que nem os salários em atraso escapavam ao escrutínio e os incidentes no túnel da Luz após o jogo com o Nacional foram virados contra o árbitro Pedro Henriques – nem o golo precedido de grave e flagrante irregularidade teve continuidade nas páginas desportivas.

Envergonhadamente, do que li em O Jogo e no Record, lá publicaram a posição de fora-de-jogo de Urreta adiantado em relação ao passe de Saviola e em relação à defesa do FC Porto. O Record conseguiu dizer ter dúvidas e proclamar mesmo uma vitória “limpa” como se alguém a tivesse posto em causa; O Jogo ainda não pensou em refundar o seu Tribunal de ex-árbitros que pouco vêem, sem se saber se eles escolhem os lances ou lhos põem à frente como uma cenoura. Os adeptos do “mereceu ganhar” encolheram os ombros ao resto, voltando a privilegiar a mão de Rodriguez e negar a falta de C. Peixoto sobre Hulk.

O futebol parece, portanto, pacificado, e não petrificado e putrefacto, em vias de normalização democrática como no País político que chafurda na absoluta indigência comportamental, racional e moral em que o PM acicata os dichotes e sanciona a truculência do discurso em nome de querer governar contra a maioria da Oposição e de outra passadeira vermelha para o “quero, posso e mando” tão ao gosto português saudoso do tempo obediente da outra senhora.

Sobrou para azedar mais as rabanadas um assunto de túnel, como não podia deixar de ser numa área tão obscura, para a inefável CD da Liga. É sempre na Luz ou sempre com o Benfica. Tal como nas arbitragens favoráveis ou contra o clube do regime, os túneis são mais palco de terrorismo se tiver “stewards” de outros clubes, como em Braga, enquanto os do clube da Luz vigiam em área proibida pelos regulamentos os forasteiros, tal como a PSP vigia os adeptos invasores em vez de impedirem que mais fumos e foguetes voltem a intoxicar o ambiente no estádio que já de si alberga(va) material de guerra que a douta CD da Liga, na sua linear singularidade, mandou arquivar como se não existisse nem o seu uso nunca fosse visto e ventilado na atmosfera pútrida das redondezas.

Passamos, por isso, um Natal sem miasmas, mas com muitos miaus de gatinhos anafados e a ronronar com o clube do regime. Enfatizou-se um jogo jogado sem qualquer ocasião de golo validamente aceite e repartiu-se o mal da arbitragem para nunca se dar o braço a torcer face ao prejuízo, previsível e antecipadamente anunciado, do FC Porto.

Contudo, a imaculada equipa da Luz, entre outras amizades arbitrárias como em Leiria, ganhou dois jogos em casa por 1-0 com “assistências” colaboracionistas de Lucílio Baptista. Mesmo assim, o falacioso “campeão de Inverno” é o Sp. Braga que os adeptos encarnados estão sempre a apoucar. E ainda falta uma jornada para o fim da 1ª volta, onde em todos os países da Europa costuma terminar com todos a jogarem contra todos uma vez para se celebrar e analisar meio campeonato disputado. E o FC Porto, com 3 derrotas fortuitas mesmo jogando mal e aos tropeções e com golos na própria baliza (1-1 em P. Ferreira e 0-1 no Marítimo), teima em ficar apenas a 4 pontos da melhor equipa do mundo à cata de reforços, um FC Porto desacreditado, desapoiado, desalmado (sem alma, de facto), remendado e afectado com coisas tão inacreditáveis como mais esta que, depois da 1ª jornada na Mata Real, se abate sobre o Incrível Hulk que também desaponta nas grandes ocasiões mas volta a ficar pelo menos mais dois jogos de campeonato (além das taças domésticas) de fora, como é bom para o futebol.

Fica, portanto, um Bom Natal para todos e sem anseios de o Ano Novo trazer algo de inovador na discussão do sexo dos anjos que numas ocasiões se determina ser mau se o FC Porto ganha e para uns basbaques medíocres é só alvo de contemplação acrítica com louvaminhas ao Benfica apoiado pelos abnegados adeptos e suportado pelos poderes de facto da Liga. A bem da Nação.

Crónica semanal do blog Portistas de Bancada para o Futebol "O desporto rei"