O ambiente está quente mas mais calmo do que em anos e meses anteriores, pelo que o jogo da supertaça pode efectivamente, e finalmente, uma materialização da festa do futebol.
A pré-época terminou, mas o mercado ainda não, e esse é um factor importante quando partimos para uma antevisão de um jogo desta envergadura. O SLB x FCP não é apenas mais uma supertaça. É uma defesa do orgulho entre os dois emblemas. Nenhum gosta de perder, mas principalmente com o adversário em questão isso é proibitivo pois, para além da satisfação ou frustração, é uma arma de arremesso fortíssima a ser usada entre colegas de trabalho ou amigos nos dias seguintes.
Por isso, não são de fiar as declarações que vamos ouvindo de parte a parte, desvalorizando o resultado no contexto de sucesso da época que agora começa. Jesus tem em mãos a responsabilidade de acalmar os adeptos num momento de maior apreensão perante a saída de dois elementos muito desequilibradores sem um reforço verdadeiramente confirmado, e um anúncio de renascimento do dragão. Uma derrota pode fazer renascer o fantasma do regresso dos azuis e brancos ao poder. Teoricamente, Villas Boas tem mais espaço para falhar. Está a fazer uma nova equipa, com uma nova forma de trabalhar, e por isso com a folga inicial que os adeptos compreendem.
Então, é muito compreensível que se afigure um Benfica muito concentrado, à imagem do que o treinador já conseguiu incutir nos jogadores há muitos meses. Provavelmente, mais dominador no jogo. Mas isto, se o Porto deixar. Será de prever que Villas Boas tenha uma estratégia montada com base no aproveitamento que tem do maior conhecimento do adversário do que o inverso. Por isso, não estranhem os adeptos se virmos um Benfica a começar o encontro mais incisivamente. Será normal.
Não será, contudo, determinante de um favoritismo do campeão. Aliás, se o Benfica não conseguir transformar um maior caudal de jogo em oportunidades de golo, o factor surpresa de uma equipa azul e branca renascida trará com certeza alguns arrepios aos encarnados.
Lancemos, agora, um olhar aos maiores detalhes, sob o prisma dos processos defensivos de ambas as equipas perante os adversários, já que considero a melhor forma de antever um jogo, ao invés de apenas o perspectivar a partir de uma equipa, como se a outra não tivesse vida própria (o que os "paineleiros" fazem todas as semanas na TV).
Benfica.
Na linha defensiva, David Luiz e Luisão não estão propriamente talhados para defender a tempo inteiro pelo que o Benfica tem mesmo que manter o jogo o maior número de minutos possível no meio campo adversário. Aliás, as falhas defensivas ilustram isso mesmo. É um processo natural de uma equipa que, por natureza, parece só saber e querer atacar. Maxi e Coentrão serão seguramente os laterais, mas terão bem que saber dosear as subidas. Sem Di Maria e Ramires a suportar o ataque pelas alas, é expectável uma maior tentação por parte destes. Algo que Villas Boas estará à espera pelo que não será surpresa se assistirmos a Hulk e Cristian nas alas, em constantes rendições de flanco para tentar desinibir as investidas adversárias e aproveitar descompensações. Falcao deverá ser estrategicamente posicionado de uma forma "estanque" entre os centrais para que estes também apelem à menor subida dos laterais.
O aspecto mais "plantado" de Falcao servirá para isso mesmo, usando Villas Boas o argentino Belluschi para, acompanhado de Moutinho, efectivamente conduzir o jogo até bem perto da área, flanqueados pelos alas. Nesta perspectiva, Jesus também não deverá arriscar num meio campo demasiado ofensivo. Entre Javi ou Airton, não será descabido usar o brasileiro por ser mais rápido a acompanhar os volantes do Porto. Mas, provavelmente, até poderá usar Javi atrás, com Airton a fazer a cobertura mais à frente. Permitirá os laterais subirem, obrigando o Porto a jogar pelas alas, mas com maiores dificuldades na penetração ou recurso ao jogo aéreo.
FC Porto
Apenas subindo Coentrão, será mais fácil ao Porto controlar, mas bem mais dificil criar jogo. Do outro lado, Álvaro Pereira é um problema para Jesus. Sem ala direito para inibir o uruguaio, este poderá subir muitas vezes, até demais para desequilibrar. Mas esta pode ser agora a maior frustração para os dragões. Não sendo Rolando e Maicón dupla suficiente para Saviola e um Cardozo em topo de forma, e Fernando uma "lapa" sobre Aimar, Villas Boas não deverá fazer Álvaro subir demasiado e, por ventura, até se concentrará em reforçar o eixo da defesa nas sobras. Ainda mais porque Carlos Martins, não defendendo, tentará ocupar os espaços junto a Aimar para criar jogo.
Em suma, e colocando-me eu na cabeça de cada um dos treinadores, começava o jogo desta forma, e com estas linhas básicas exigidas ao sistema da equipa:
Villas Boas: - Helton, Miguel Lopes, Maicon, Rolando, Álvaro Pereira, Fernando, Moutinho, Belluschi, Cristian, Hulk e Falcao. Impedir os laterais do Benfica de subir não fazendo descer os extremos muito mais do que a linha de meio campo. Dividir o jogo entre os defesas e Fernando sempre atrás, e Belluschi e Moutinho a cobrirem as saídas de Carlos Martins e laterais, dando-lhes depois liberdade e responsabilidade de construir o jogo. Falcao colado aos centrais para dar espaço aos extremos. Rematar de longe, logo que haja oportunidade.
Agora, cada um que faça o que entender pois eles é que são pagos e responsabilizados por isso. Seguramente, este é um jogo de 50/50.
0 golos