Até 1982, o Porto havia conquistado o Campeonato Português em apenas sete oportunidades – e assistia ao forte poderio do Benfica e, em menor escala, ao do Sporting. Foi nesse ano que Jorge Nuno Pinto da Costa assumiu a presidência dos Dragões – e conseguiu fazer do clube nortenho a maior potência do futebol português nas últimas três décadas. De clube provinciano e com pouca projeção internacional, o Porto passou a ser a grande referência do país no panorama europeu. Os números falam por si.

De 1935 (ano em que se encerrou o primeiro campeonato português de futebol – ainda que de forma experimental) a 1982, tivemos 48 torneios. Os sete minguados títulos do Porto representavam, então, apenas 14,6% do total. De 1982 (ano em que Pinto da Costa chega ao poder) a 2008, foram 26 torneios. Nesse período, o Porto obteve 16 títulos, o que corresponde a 61,5%. Se considerarmos que o título deste ano está quase ganho, temos que o Porto aumentará seu índice de conquistas no período para 63%. Trata-se da maior supremacia do futebol português de todos os tempos.

No cenário internacional, a mudança também é notória: no reinado de Pinto da Costa, os Dragões conquistaram duas Ligas dos Campeões (1987 e 2004), dois títulos Mundiais de clubes (nos mesmos anos) e uma Taça Uefa (2003). Nenhum outro clube português venceu algo no cenário europeu ou mundial nesse período. Além disso, o Porto é o clube português com mais participações na Liga dos Campeões do atual formato (falhou apenas as temporadas 1994-95 e 2002-03).

Patrimônio e polêmicas também são grandiosos

Quando Pinto da Costa assumiu a presidência, o patrimônio do Porto era composto principalmente pelo antigo Estádio das Antas, pela sede no centro da cidade e por um ônibus envelhecido. O clube possuía então cerca de 60 mil sócios. Quase trinta anos depois, os sócios pagantes chegam a 90 mil e o patrimônio foi incrementado com o Estádio do Dragão, um centro de treinamento e, desde a última quinta-feira, com o
Dragão Caixa – um moderno ginásio multiuso. Para os próximos anos, Pinto da Costa promete a criação de um museu do clube.

Se os números são eloqüentes, eloqüentes são também as denúncias de corrupção levantadas contra Pinto da Costa, alvo de várias suspeitas de manipulação de resultados no futebol português. Após a operação “Apito Dourado”, cujas investigações ainda prosseguem, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional instaurou a operação “Apito Final”, que culminou com a retirada de seis pontos do Porto na temporada passada (o que não alterou o resultado final). O episódio chegou a ameaçar a participação do clube na Liga dos Campeões desta temporada.

O temperamento de Pinto da Costa também explica o desempenho recente do Porto dentro e fora dos campos. O jeito folclórico e provocador do cartola conseguem atrair a ira dos adversários, ao mesmo tempo em que serve de júbilo para os torcedores portistas. Para além das suspeitas de corrupção, a grande obra do presidente “eterno” é ter colocado o Porto na agenda do futebol mundial. Pena que, nesse projeto, esteja uma evitável guerra entre o Norte e o Sul de Portugal que se procura evocar na oposição com os arqui-rivais Benfica e Sporting. O grande efeito colateral desse reinado é saber o que será do Porto assim que Pinto da Costa aposentar-se.

By Zeca Marques - In Trivela.com