Ao final da temporada 2008/2009, teremos computado 75 edições do Campeonato Português de futebol da primeira divisão. Ao longo desse período, registram-se 73 títulos conquistados por apenas três clubes: Benfica, com 31; Porto, com 23; e Sporting, com 18 (o campeonato deste ano ficará novamente com um dos três grandes, com vantagem até agora para o Porto). Cabe destacar que apenas duas equipes até agora foram capazes de romper o poderio do trio de ferro português: o Belenenses, campeão em 1946, e o Boavista, em 2001. Entretanto, ambos vivem situação muito delicada atualmente – e correm sério risco de cair de divisão.

O Belenenses ocupa a penúltima colocação da Liga Sagres, com 21 pontos, dois a mais que o lanterna Trofense. Nesta rodada, ambos se enfrentam na cidade da Trofa. Se o time da casa vencer, o Belenenses ficará em último lugar do campeonato, a três rodadas do final. Triste sina para um clube que conta com a simpatia dos torcedores (é uma espécie de Portuguesa de Desportos de Lisboa, representando o “segundo time” de benfiquistas e sportinguistas) e que dispõe de um estádio instalado numa região privilegiada da capital portuguesa (no bairro de Belém, a poucos metros do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém).

O Belenenses paga o preço de sucessivas administrações desastradas nos últimos anos. Em 2006, o time já havia sido rebaixado para a segundona dentro de campo. Só se safou nos tribunais por causa do famoso caso “Mateus”, atleta angolano escalado irregularmente pelo Gil Vicente, que, por isso, perdeu seis pontos e acabou caindo no lugar do clube lisboeta. O problema do Belenenses é que a tabela não é muito animadora: na 28ª rodada, enfrenta em casa o Braga (que luta por um lugar na próxima Taça Uefa); depois, recebe o Rio Ave, que também foge do rebaixamento; por último, vai à Luz enfrentar o Benfica, que pode depender dessa partida para ficar em segundo lugar no campeonato e conquistar a vaga na Liga dos Campeões.

Para safar-se do rebaixamento, o Belenenses terá que superar o Vitória de Setúbal (22 pontos) ou o Rio Ave (23). O Trofense dificilmente escapará: além do Belenenses, pega o Benfica (fora) o Porto (casa) e o Paços de Ferreira (f). O Setúbal enfrenta o Paços (c), o Sporting (f), o Leixões (c) e o Naval (f). Aparentemente, tem a vida mais facilitada. Já o Rio Ave enfrenta o Braga (c), o Vitória de Guimarães (f), o mesmo Belenenses (f) e o Estrela Amadora (c). A decisão pela permanência na primeira divisão deve ficar mesmo na partida entre Belenenses x Rio Ave, pela 29ª rodada, marcada para o final de semana do dia 17 de maio.

Boavista enfrenta ainda mais dificuldades na Segundona

O Boavista, que à semelhança do Belenenses foi a outra equipe a ousar vencer o campeonato nacional, também sofre – só que na Segunda Divisão. O clube axadrezado é igualmente o penúltimo colocado do torneio, com 28 pontos. Está a três de distância do lanterna Gondomar, contra quem faz o confronto desta rodada. Se perder, fica em último, mais uma vez à semelhança do que pode ocorrer com o Belenenses. O ponto positivo do Boavista é que a luta contra o rebaixamento será mais acirrada, já que outras quatro equipes também estão seriamente ameaçadas: Freamunde, com 31 pontos, Viezela e Portimonense, com 29, e o Oliveirense, com 28.

Em função das investigações da operação “Apito Final”, engendrada pela Liga de Clubes em Portugal, o Boavista foi rebaixado em 2008 por acusação de coação em três jogos da temporada 2003/04 do Campeonato Português. O clube foi ainda multado em 180 mil euros, e seu presidente, João Loureiro, suspenso por quatro anos. João é simplesmente filho do Major Valentim Loureiro, presidente da Liga de Clubes até 2006 e presidente da Câmara Municipal (equivalente ao cargo de prefeito) de Gondomar – cidade do outro clube que também deve cair de divisão. O Major é o rosto mais conhecido das suspeitas de corrupção no futebol português. Em julho de 2008, foi condenado a três anos de prisão, em decorrência do processo conhecido como Apito Dourado.

Na luta para fugir do rebaixamento, o Boavista enfrentará, além do Gondomar (f), o Gil Vicente (c), o Estoril Praia (f) e o Covilhã (c). O clube é dono de um imponente patrimônio numa das regiões mais valorizadas da cidade do Porto – o Estádio do Bessa, totalmente reformado para a Eurocopa-2004. Mas o presente é sombrio para os axadrezados: o clube conta com dívidas monstruosas e enfrentou sérias dificuldades para montar o elenco que disputa a segundona. Tem contado com a ajuda de outros clubes – o Benfica até se dispôs a realizar uma partida amistosa no Bessa, com renda para o Boavista –, mas tudo tem parecido pouco diante da herança dos Loureiro no comando do clube.

By Zeca Marques - In "Trivela.com"