Eu não tenho dúvidas de que a maioria dos adeptos é puramente irracional e, daí, age e pensa irreflectidamente. Independentemente das cores clubistas, falta em geral uma percepção real dos múltiplos aspectos que rodeiam um jogo de futebol ou a formação de um plantel, para não falar da iliteracia económica para ler e apreciar os relatórios e contas. Há wuem veja só o resultado e negligencie a exibição, ou porque o jogo não justificou o “score” ou porque o desfecho final não reflectiu a qualidade do jogo, estando amiúde desfasados uma coisa da outra. É assim o futebol e devia ser visto com mais atenção do que uma mediática exposição do Desporto-Rei justifica. Mais conhecimento e menos hipocrisia, tudo pela incapacidade de avaliação real e potencial das forças em presença e dos múltiplos factores que influenciam dentro e fora do campo. Torna-se, de facto, apaixonante, mas o nível global de comentários, continuo a pensar assim, é de uma mediocridade atroz. Ou porque a Imprensa da especialidade não ajuda, ou porque os paineleiros são do pior nível dos mais iletrados adeptos, a verdade é que a cada dia que passa dá-se uma no cravo e outra na ferradura.
Isto a propósito de, surpreendentemente, no rescaldo do dérbi lisbonense, ter-se falado do relvado de Alvalade como justificativo de um fraco jogo globalmente considerado. Alegadamente prejudicou as duas equipas, mas só uma se queixou verdadeiramente e talvez Jorge Jesus quisesse desviar as atenções de mais um jogo menos conseguido do Benfica face a um Sporting transfigurado para muito melhor e com o qual o antes suspeito Carvalhal conseguiu fazer o que o antecessor Paulo Bento não conseguia por óbvias limitações técnicas e até conceptuais no que a argumentos tácticos diz respeito.
Já se usou dois pesos e duas medidas para muita coisa no futebol, do campo disciplinar aos critérios dos árbitros sempre gritantes no assinalar de faltas e punir com cartões. Mas ainda há dias se questionou, com alguma gravidade sem o caso justificar tantas dúvidas, se o FC Porto não devia ter jogado no lamaçal de Oliveira de Azeméis (na foto). Um campo ou alagado sob chuva ou impraticável quando limitado às poças e charcos. Infelizmente, até adeptos portistas achavam que o FC Porto devia sujeitar-se a tal prova, como se o futebol fosse um “trial” para motos ou pista de lodo dos fuzileiros.
Tal a disparidade de observações é anedótica e diz bem do senso geral da mediania e mesmo mediocridade em que se quer manter o futebol. As instituições FPF e Liga lavaram as mãos como Pilatos e o jogo da Taça de Portugal corre o risco de ser jogado no pico do Inverno naquele campo sem condições para o jogo nem conforto para o público. Querer nivelar-se por tão baixo e obrigar uma equipa do topo europeu a visitar um adversário que se considera actuar num “caixote” é revelador da falta de qualidade e critério com que se observa o futebol. Pode ser um jogo do povo e para o povo, mas não descendo ao nível de indigência mental em que pretendem mantê-lo.
Foi, para mim, surpreendente a alusão ao mau relvado de Alvalade. Até porque há relativamente pouco tempo Paulo Bento tinha denunciado o problema que se colocava logo à partida ao Sporting a jogar em casa num piso inadequado para a desejada qualidade que exigem os seus adeptos e desejam os restantes. Como, entretanto, ouvi comentadores até de vários clubes dizer que não se justificara o cancelamento do Oliveirense-FC Porto, não deixo de fazer este reparo, até porque Alvalade continua a ter, apesar de tudo, um relvado minimamente decente. E não foi Carvalhal quem se queixou, pois lá também já tinha estado como treinador de equipas adversárias.
Mas pior do que os relvados – e há muitos anos, mesmo do tempo das Antas, o FC Porto tem o melhor relvado do País --, em que poderia inserir-se o péssimo piso do Jamor estupidamente eleito para palco das finais da Taça de Portugal (precisamente), não havendo decência nem coerência não é possível melhorar o discurso e as apreciações do jogo em Portugal. De resto, são sempre os mesmos a perder, invejando o FC Porto pelo seu sucesso e postura.
Por um lamentável equívoco este post é originário da colaboração com o blog Portistas de bancada e não do blog referido aqui.
Desde já peço desculpa aos dois blogues em causa, tal aconteceu porque habitualmente à 4ªf sai a crónica do Benfica e como o Zé Luís me enviou a sua crónica hoje "cedinho" eu "espalhei-me", uma vez que habitualmente a crónica do representante do Benfica sai hoje, isto foi do "hábito"...
Mais uma vez peço desculpa por este lamentável erro.