Tornou-se uma expressão popularizada, entrou no léxico futebolês mas viu a luz do dia por José Maria Pedroto, o Mestre dos treinadores nacionais que faleceu há 25 anos depois de quebrar as correntes que atazanavam, mentalmente, o futebol portista.
O “roubo de igreja” fala-se em relação aos favorecimentos de arbitragem aos clubes de Lisboa, especialmente ao Benfica. Ainda antes de a Luz ser designada por catedral, o roubo de igreja significava uma situação de flagrante benefício de arbitragens que o FC Porto deixou de calar quando Pedroto voltou ao clube em 1976 para ganhar nessa época a Taça de Portugal e dois campeonatos nos anos seguintes.
É curiosa a coincidência de evocar-se a morte de Pedroto – e não só pela expressão popularizada, porque era um técnico dotado de argúcia táctica e fluência no falar sem esconder nomes e refrear impulsos politicamente correctos após o 25/4/74 – quando o Benfica somou, antes do Natal e na entrada do novo ano, duas vitórias fraudulentas centradas em erros de arbitragem claramente a seu favor e que definiram os resultados com duplo 1-0 ante FC Porto e Nacional, este para a famigerada Taça da Liga que resiste, ainda tão jovem, como a prova dos roubos de igreja pela infame arbitragem de Lucílio Baptista na final da época passada em que o Sporting foi a vítima ocasional.
Essa “Taça Lucílio Baptista” de Março do ano passado, no Algarve, ainda motivou chamarem o patético árbitro sadino a explicar-se perante a TV (SIC). No recente clássico com o Benfica, o FC Porto sofreu um golo precedido de flagrante irregularidade. Mas desta vez ninguém foi chamado a explicar a “nova regra” perante câmaras de televisão. Curiosamente, um ano antes, num Benfica-Nacional marcado pela anulação de um golo bem invalidade ao Benfica, o árbitro Pedro Henriques também apareceu, sabe-se lá picado por qual mosquito, a dar a sua explicação, essa coerente, racional e suportada nas Regras do Jogo, sobre o golo anulado a Cardozo nos últimos instantes.
Agora, ontem aliás, vejo na tv que Lucílio Baptista teve direito a perguntas de circunstância sobre os incidentes no túnel da Luz, o antro profundo da igreja onde se cometem outros crimes pelo visto e ouvido. Não se lembraram, os pés-de-microfone lisbonenses, de lhe perguntarem se reviu o lance do fora-de-jogo de Urreta a passe de Saviola no clássico. Perguntaram-lhe se foi ameaçado por causa do que sucedeu no túnel de acesso aos balneários…
É por estas e por outras que o futebol português cai na imbecilidade informativa e redundante. Para mais, com um arauto aparolado a proclamar a Verdade Desportiva branqueando os roubos sucessivos de arbitragem em favor do Benfica, a saga continua.
Mas era por estas e por outras, com o condicionamento informativo e o espírito de colaboração dos meios de Comunicação Social para com o Benfica naqueles tempos, que Pedroto dizia:
“Não vou à rádio porque de Lisboa estão sempre a cortar a emissão”.
Pedroto, que saudade!
Crónica semanal do blog Portistas de Bancada para o Futebol "O desporto rei"
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