Já ouviram falar do “mal da montanha” que, em altas altitudes como nos Himalaias, provoca dores de cabeça, náuseas, vómitos, cansaço evidente, stress extremo e até risco de morte. O futebol tem-nos mostrado o “mal do adepto”. O que é isso? É aquele sentimento de dizer mal de tudo quando as coisas não correm bem. É as finanças, são os reforços, obviamente os árbitros, cada vez mais o treinador e nenhuma exibição os contenta.
Tem-se passado isso com os adeptos portistas. Desconfiados sempre, só se a equipa engatar umas 15 jornadas sem perder, mas tendo de ganhar na maioria das vezes, os adeptos sossegam. Não é exclusivo dos portistas, é antes do mais uma maleita congénita nos portugueses. Aliás, na vida política e nas coisas públicas, que tocam a todos independentemente de partidarite ou clubite, os tugas votam à carneirada, seguem o rebanho, elegem os mesmos, não compreendem as opções políticas e temos o resultado de um cadáver adiado que parece ser Portugal.
No Sporting, a entrada de Carvalhal demonstrou que o inconformismo leonino da exasperante era Paulo “ventoinha” Bento fez baixar a auto-estima a níveis nunca vistos, transferindo para o novo treinador a senda de fracassos que nunca poderia ser-lhe imputada, na gestão dos recursos financeiros e nas opções do técnico antecessor.
No FC Porto, que acabou a 1ª volta com mais um ponto do que em igual momento da época passada, as coisas já deram para o torto no sentido de os adeptos torturarem-se, arrastando a equipa para essa autoflagelação, mesmo quando no campo os jogadores se soltam, marcam, superam os erros do árbitro e vencem, como sucedeu com a U. Leiria no domingo.
Porém, as incidências do jogo adulteraram, como vinagre, o que ele transmitiu: uma equipa segura, que fez 5 golos e sofreu dois indevidamente por lapsos (relapsos) dos árbitros, correu o risco de empatar 3-3. Uma exibição muito agradável do FC Porto merecia outra tranquilidade em vez de alusão a sorte na defesa final de Helton para assegurar os três pontos.
Não vou insistir nas incidências arbitrais de mais uma miserável demonstração de parcialidade, imbecilidade e incapacidade de Elmano Santos, na esteira de tantos e praticamente todos os árbitros portugueses.
O “mal do adepto” instalou-se nos mais “nervosos”, aqueles dispostos a prender alguém por ter ou não ter cão. Perdendo-se a noção das coisas, cai-se no exagero. Rui Moreira, por exemplo, falou das substituições de Jesualdo Ferreira como o mal da equipa nesse jogo. O grave nem é a sua interpretação, é ter dito que o fez a 15 minutos do fim. Não é verdade, como se comprova. A ganhar por 3-2, contra 10, em casa, após uma boa exibição, o FC Porto estava a 5 ou 6 minutos apenas de obter uma vitória suada, que se tornou difícil mas era digna de melhor diferença de golos.
Jesualdo tinha tirado um defesa para lançar um avançado: Miguel Lopes por Farías. Chegou ao 3-2. Tentou ampliar. Teve (mais) um golo mal anulado. E, entretanto, ficou a jogar contra 10. No futebol, como provou o penálti falhado de Ronny, nunca se sabe o que acontece. Se 11 contra 10, a ganharem a 5 minutos do fim, insistem na busca de mais um golo, pode-se sofrer o empate num lance imprevisto.
Adiantaria arriscar? Naquelas circunstâncias? Jesualdo meteu Mariano e Tomás Costa, repondo gente atrás e reforçando o meio-campo. Era segura esta opção. Normal nos termos em que foi assumida. Mas o futebol atraiçoa-nos sempre, mas não pode beliscar sempre as opções que se tomam. Saiu o imprevisto do penálti de Fernando, que fez um excelente jogo e em escassos minutos acabou expulso por acumulação de amarelos. O Leiria, entretanto, arriscando no desespero, lançou mais uma torre para a frente, meteu dois homens altos e fortes na área e buscou o jogo directo. Mais uma razão para o FC Porto se prevenir. Mas no futebol nada é certo, não é? Excepto os benefícios permanentes e gritantes dos árbitros em favor do Benfica até ao momento, tudo está em causa.
Pode-se discutir a qualidade de Tomás Costa e até de Mariano. Mas não a utilidade e o acerto de serem lançados para “acabarem” com o jogo no domingo passado. Era preciso gerir melhor a bola e Tomás Costa comprovou não saber fazê-lo. Mas isso é outra questão, não tem a ver com a opção de meter alguém de pendor mais defensivo, a 5’ do fim e a ganhar 3-2. A discussão, num jogo que a mereceu tanto por outros factores e com alvo principal na arbitragem hedionda que Elmano nos brindou de novo, não pode ser criticar porque se “defendeu” um resultado. Quantas equipas não o fazem em circunstâncias similares? Nem todas o conseguem, mas também nem todas assumem essa atitude mais prudente e depois pagam-no caro.
Mas quando o desassossego e desconfiança são grandes o “mal do adepto” vem sempre ao de cima.
Para já não se passa com os benfiquistas, que acreditam “no melhor futebol” da sua equipa mas recusam ver que só tem ganho com erros de arbitragem, alguns bem graves e chocantemente evidentes, a seu favor. Não é o “melhor futebol” que ganha campeonatos, embora possa ajudar. E quando esse “melhor futebol” dá mais golos de bola parada do que em jogo corrido, o “mal do adepto”, assimilado na Crítica em geral, funciona ao contrário: não vê que algo não está bem e, claro, muito menos enxerga que os árbitros ajudam mais do que o “melhor futebol”.
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