O Defeso "formado"

Chega o mês das férias dos jogadores e rapidamente se centram os jornais, fóruns e os adeptos naquilo que será o deve e haver dos jogadores que entram e que saem... e com o fenómeno das SAD, entrou definitivamente no léxico do mais comum dos adeptos, os valores, as contas do defeso.

É verdade que as transferências, especialmente as milionárias, são importantes para muita gente: os adeptos galvanizam-se, os jornais vendem e vendem, os dirigentes ganham "crédito ilimitado" até ao inicio do campeonato.

Não por isso de estranhar que os clubes grandes com ambições a ter receitas que provêem dos sócios, tenham que pensar na necessidade de aparecer com "nomes" que entusiasmem os adeptos.

O que diriam os adeptos, ou mesmo os jornais, se Luis Filipe Vieira aparecesse na próxima semana a dizer que íamos apenas contratar mais cinco jogadores: Ruben Lima, Leandro Pimenta, David Simão, Nelson Oliveira e Yartey???

Obviamente que não se atrasariam os "velhos do Restelo" e os profetas da desgraça a dizer raios e coriscos do SLBenfica e das suas ambições e... finanças (engraçado como o tema do "dinheiro" hoje em dia entra na conversas do mais simples adepto).

A realidade é que o SLBenfica não pode dar-se ao luxo de ter essa postura... e não é porque ela seja errada, mas simplesmente porque os portugueses são "mal educados". O "tuga" gosta é de show-off... daquele jogador que é símbolo e imagem do clube mesmo antes de dar um pontapé na bola... porque aparece com uns vídeos fantásticos no youtube, ou porque em tempos fez algo minimamente interessante por um clube da América Latina ou de fogacho pela Europa.

É fundamental enquadrar sócio-culturalmente os portugueses, uma povo que tem memória curta e que anseia por visibilidade fácil e sem ter trabalho! É apenas por isso que, sem que seja necessário fazer absolutamente nada, um jogador (pelo nome) vem endeusado mesmo antes de tocar na bola.

Eu advogo exactamente O CONTRÁRIO! Qualquer jogador estrangeiro que chegasse ao Clube deveria ter bastante que provar até poder ter a aprovação e adoração dos adeptos do SLBenfica. Pelo contrário, deveríamos deixar de olhar para os jovens da "cantera" como uns putos "esforçados" que à falta de melhor pode ser que até rendam alguma coisa.

Parece-me a mim que o paradigma está completamente ao contrário. Deveríamos olhar com cautela para qualquer jogador contratado pelo SLBenfica, não por desconfiança das suas capacidades, mas sim porque para ter o privilégio de vestir o "manto sagrado" deveria ser obrigatório conquistar esse lugar... em campo.

Já por contrário, deveríamos ter carinho especial por jovens que desde os 8, 9, 10, 13 anos jogam no SLBenfica. Viveram lá as primeiras alegrias, as primeiras desilusões e os primeiros derbys. Os jovens que sabem que um Benfica x Sporting não apenas um jogo importante contra uma outra grande equipa... mas sim um jogo muito especial que atravessa gerações e tem um passado que fala por sim.

Tudo isto para vos dizer que num país pequeno e de parcos recursos financeiros, deveríamos rapidamente aprender a valorizar os modelos de formação de jovens atletas e jogadores. 1/10 dos milhões desprezados em atletas de valor questionável e que nunca chegam efectivamente a render ou justificar os valores pagos pelas transferências ou salários seriam mais que suficientes para investir em departamentos de formação com condições, estruturas e recursos humanos capazes de implementar projectos inovadores, empreendedores e diferenciadores na formação de atletas em clube portugueses... e já nem falo nos grandes.

Olho, por exemplo, para a Madeira, onde os dois clubes de maior destaque têm benefícios que mais nenhum Clube em Portugal tem, através do acesso a fundos do Governo Regional. Face à condição de região insular, porque não investir em criar o protótipo de jogador da Madeira? Jovens que seriam acompanhados no seu desenvolvimento de acordo com metodologias próprias e bem definidas e que apenas poderiam ser transferidos, para clubes nacionais antes de poderem sair para clubes estrangeiros???

Porque não criar uma "obrigação" de integrar nos planteis dos clubes da primeira e segunda divisões, um mínimo de jogadores formados no clube, mas com a obrigação de utilização em 25% dos jogos oficiais?

Há muito que os clubes podem fazer... mas acima de tudo o meu ponto é que os Clubes só o farão no dia em que isso tiver algum significado para um aspecto muito relevante do futebol: A satisfação dos adeptos e o correspondente valor que será aportado pelos mesmos aos clubes em quotizações e envolvimento na vida do clube.

Crónica semanal do blog GeraçãoBenfica para o Futebol "O Desporto rei"