João Morais faleceu esta semana mas com ele foi apenas uma parte de uma grande história de sucesso do nosso futebol. Para os seus familiares e amigos, e, os que, como eu, tiveram a sorte e a honra de o conhecer pessoalmente, é um encerrar de um ciclo da forma mais dolorosa, e até injusta, para uma pessoa encantadora, que fazia da gentileza e afabilidade uma forma de estar natural. Para os muitos Sportinguistas que o conheceram apenas pelo seu feito o homem do cantinho há muito que se imortalizou, tendo agora apenas cumprindo mais uma etapa, desta feita incontornável.
Morais tinha um encontro com o destino em Antuérpia. Não teria sido ele certamente a jogar não fora a lesão de Hilário, então titular indiscutível. No final do jogo para o campeonato nacional que antecedeu a partida para a final – que afinal haveria de ser disputada em duas vezes, com uma finalíssima – foi chamado pelo altifalante de Alvalade para se juntar ao grupo. Esse altifalante pode ser visto no Mundo Sporting, esse fabuloso repositório de inúmeros momentos de glória do nosso clube. Em Antuérpia foi a sua irreverência traquina que o fez chutar contra as probabilidades marcando um canto directo para a história do desporto nacional.
A vitória nas Taças das Taças, então a 2ª competição em ordem de importância para a UEFA, foi o expoente máximo das conquistas internacionais do futebol do Sporting até aos dias de hoje, coroando um trajecto difícil de adjectivar e que deixou escritos diversos capítulos que o tempo não conseguirá apagar. A goleada ao Apoel de Chipre, 16-1, é ainda hoje um feito por igualar nas competições da UEFA e provavelmente inalcançável. A remontada do desaire sofrido em Manchester (4-1), derrotando por 5 golos sem resposta uma equipa que se preparava para ganhar a Liga dos Campeões na época seguinte e servir de base à selecção campeã do Mundo em 1966, tem letras ouro a descrevê-la.
Quis o acaso que as melhores equipas de sempre do Sporting tivessem existido numa fase pré-competições europeias, obstando a que o nosso nome não figure tantas vezes como desejaríamos na sua lista de vencedores. Mas não foi por acaso que o Sporting inscreveu o seu nome no primeiro jogo de sempre da Liga dos Campeões, a convite da UEFA, em 1955. A equipa de que Morais fez parte fechou um ciclo que será difícil repetir. Mas nestes tempos de glória ganhar nunca foi um acaso, antes fruto de muito trabalho e de grupos de jogadores de enorme qualidade. Morais foi um deles, reunindo às características de jogador de eleição, a de Homem. E assim não há muitos.
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