Saíram os resultados do 3º trimestre, que já todos conhecem, e apesar da curiosidade de muitos, acaba por ser ainda um pouco cedo para falar da real situação financeira dos três grandes, pois os exercícios anuais ainda não estão fechados, o que é como quem diz, ainda falta um trimestre para contabilizar mais lucros e mais prejuízos.
Contudo, a tentação é grande e nunca me pareceu tão fácil projectar o futuro destes emblemas pois, para além de ser claro e cristalino o ponto de situação, também já percebemos as estratégias dos gestores.
Vamos, então, por partes.
Se existe alguma SAD de clube em Portugal inequivocamente gerida como uma empresa, isto é, com o intuito de retribuir o investimento dos accionistas sem, no mínimo, lhes trazer prejuízos, é o FC Porto.
O balanço do clube é claramente revelador de boa saúde. O FC Porto viu de 2007/2008 para 2008/2009 os seus capitais próprios crescerem por incorporação de resultados líquidos positivos e, por este andar, em 2009/2010 vai suceder-se o mesmo, com a boa notícia para os gestores, sócios e accionistas de que verão o clube tornar-se ainda mais auto suficiente. Relembre-se que, no mesmo período da época passada (ao 3' trimestre), os lucros não eram tão elevados como neste momento, que ascendem a quase 11 milhões de euros, o que catapulta os capitais próprios para 33 milhões de euros.
Ainda que o FC Porto, como se sabe, tenha uma estrutura bastante pesada, os 18 milhões que vai deixar de encaixar na Champions não farão tremer a gestão dos dragões.
Pelo que nos habituamos a ver, o FC Porto não deverá desperdiçar os bons negócios de vendas de passes que surgirem, e não entrará em loucuras nas aquisições. Ainda mais porque, e segundo muitos avaliadores, tem um plantel suficientemente apetrechado para atacar o título, podendo ser a alteração ao modelo de jogo a impor pelo novo treinador uma condição suficiente para recandidatar o clube ao título.
Já no Sporting, temos o caso oposto.
Já era um clube tecnicamente falido no final da época passada e, como se esperava após constatarmos uma política de contratações sem contrapartidas de vendas, é agora um clube numa situação ainda pior.
Eu não tenho problemas em afirmar que o Sporting é um clube que atingiu o alerta vermelho. Para mim, o caso é de tal forma grave que o Sporting arrisca-se a tornar-se um clube moribundo.
Que se apresente a primeira pessoa que me diga onde vai o Sporting encaixar os 30 milhões de euros necessários apenas para repor a zeros os capitais próprios, o que por si não é suficiente para garantir saúde financeira.
Pior do que isso, basta estar atento a este fim/início de época para perceber que JEB vai continuar a escavar o buraco, provavelmente até ao momento em que já será impossível sair dele. Ouvimos falar de Maniche, Petrovic, Evaldo, Boghossian,..... mas vendas, nada.
E ainda falta o plano desportivo. A equipa não é competitiva, não vai à Champions, e as vendas de jogadores necessárias para equilibrar as finanças são tão grandes que isso provavelmente faria a equipa desnivelar-se ao ponto de jogar para terminar a meio da tabela. A SAD nem sequer está numa encruzilhada. Já a passou, e escolheu o caminho mais complicado e tenebroso.
Há uma solução para o futuro: uma equipa de jovens ou experientes, mas baratos e de muito talento, orientados por um treinador de grande competência. Já foi assim, em tempos até não muito longínquos..... mas os adeptos gostam de nomes sonantes.
Benfica.
LFV enveredou por uma estratégia simples e publicamente assumida: não olhar para a deterioração das finanças do clube, em nome de um reforço capaz de reprojectar o clube ao nível europeu. A força mobilizadora do emblema seria suficiente para valorizar os jogadores, ainda que caros na aquisição, para recuperar o investimento.
O tempo dirá se a estratégia tem fundamentos sólidos ou não. Mas eu, pessoalmente, não tenho dúvidas que o mercado português é demasiado exíguo, desprovido do poder de compra necessário, e por isso incapaz de suportar uma lógica destas, mesmo que levada a cabo pelo clube com mais sócios e simpatizantes internamente. Mas, se isso não for um argumento convincente, eu aponto então para a inevitabilidade da estratégia estar condenada a passar de "questionável" a "decididamente perigosa" quando tomada numa época de crise profunda a nível mundial.
Volto a referir que os alertas foram mais do que muitos, nomeadamente de que a maior parte dos clubes europeus está, igualmente, sem dinheiro. E precisam igualmente de vender para sobreviver. Já os clubes que endinheirados, naturalmente vêm disponíveis uma série de excelentes jogadores a bons preços. Não é à toa que Mourinho diz "Di Maria sim, mas se for a um preço acessível".
Bom, mas com isto a questão do Benfica ainda vai a meio. Tenho imensas dúvidas que as contas ainda sejam adequadamente reparáveis, mesmo com a materialização das propostas que sistematicamente a imprensa desportiva nacional atira para a mesa, e que depois LFV vem desdenhar. Isto, porque, os jogadores com que o Benfica aparenta poder encaixar verbas significativas são precisamente aqueles que depois não corresponderão a um encaixe de idêntico valor para os cofres do clube. É que, ao contrário do que muitos ainda acreditam, não há poços de petróleo na Luz, nem o governo angolano é avalista do clube. E, para certificar isso, basta recordar medidas como a venda de parte dos passes destes jogadores aliciantes ao Benfica Stars Fund, assim como a reestruturação financeira de Dezembro último que envolveu o estádio. Tudo, para chegarmos à data de hoje com meros 5 milhões de CP positivos, quando a reestruturação financeira havia dado um balão de oxigénio equivalente a 28 milhões de CP positivos no final do 2º trimestre. Para quem não se lembra, o motivo foram as compras de Inverno.
Para rematar, eu também não me acredito que LFV venda sem comprar. Os adeptos do SLB não convivem bem com "downgrades" dos plantéis. Assim como os do FCP, ou os do SCP. Aliás, esse é precisamente o código genético deste problema. Ninguém tem coragem de fazer "downgrades".
Resumindo, o Benfica está numa encruzilhada. A mesma que o Sporting já passou. Só que ainda não se definiu para que lado vai à conta de um momento de respiração dado pela conquista do título e das inúmeras "notícias" da centena de milhões de euros de vendas que daí brotaram.
Só o Porto se parece ir safando. Mas também não sorriam ainda os seus adeptos, pois será positivo se daqui a 2 anos este clube for o único capaz de ter um plantel a competir na Europa, por força dos grandes de Lisboa terem que se reequilibrar para, lá está, poderem inscrever-se na UEFA. Isso significaria seguramente uma desvalorização da competição e, naturalmente. do próprio FCP.
Tantas vezes tenho vindo a alertar para este verdadeiro pesadelo no qual estamos a entrar, agravado pela factual crise económica e financeira em que o país já mergulhou. Os programas noticiosos só falam de crise, mas os programas desportivos só falam de arbitragens e dinâmicas de treinadores. Até parece que dinheiro não é problema e o futebol está imunizado com uma receita secreta da multiplicação monetária.
E ninguém conta, nem conte, com o Estado para salvar SAD's pois, para além de imoral e ilegal, é impossível.
Como li há dias num jornal diário, o futebol português parece o Titanic: está a afundar-se, mas a banda continua a tocar.
Contudo, a tentação é grande e nunca me pareceu tão fácil projectar o futuro destes emblemas pois, para além de ser claro e cristalino o ponto de situação, também já percebemos as estratégias dos gestores.
Vamos, então, por partes.
Se existe alguma SAD de clube em Portugal inequivocamente gerida como uma empresa, isto é, com o intuito de retribuir o investimento dos accionistas sem, no mínimo, lhes trazer prejuízos, é o FC Porto.
O balanço do clube é claramente revelador de boa saúde. O FC Porto viu de 2007/2008 para 2008/2009 os seus capitais próprios crescerem por incorporação de resultados líquidos positivos e, por este andar, em 2009/2010 vai suceder-se o mesmo, com a boa notícia para os gestores, sócios e accionistas de que verão o clube tornar-se ainda mais auto suficiente. Relembre-se que, no mesmo período da época passada (ao 3' trimestre), os lucros não eram tão elevados como neste momento, que ascendem a quase 11 milhões de euros, o que catapulta os capitais próprios para 33 milhões de euros.
Ainda que o FC Porto, como se sabe, tenha uma estrutura bastante pesada, os 18 milhões que vai deixar de encaixar na Champions não farão tremer a gestão dos dragões.
Pelo que nos habituamos a ver, o FC Porto não deverá desperdiçar os bons negócios de vendas de passes que surgirem, e não entrará em loucuras nas aquisições. Ainda mais porque, e segundo muitos avaliadores, tem um plantel suficientemente apetrechado para atacar o título, podendo ser a alteração ao modelo de jogo a impor pelo novo treinador uma condição suficiente para recandidatar o clube ao título.
Já no Sporting, temos o caso oposto.
Já era um clube tecnicamente falido no final da época passada e, como se esperava após constatarmos uma política de contratações sem contrapartidas de vendas, é agora um clube numa situação ainda pior.
Eu não tenho problemas em afirmar que o Sporting é um clube que atingiu o alerta vermelho. Para mim, o caso é de tal forma grave que o Sporting arrisca-se a tornar-se um clube moribundo.
Que se apresente a primeira pessoa que me diga onde vai o Sporting encaixar os 30 milhões de euros necessários apenas para repor a zeros os capitais próprios, o que por si não é suficiente para garantir saúde financeira.
Pior do que isso, basta estar atento a este fim/início de época para perceber que JEB vai continuar a escavar o buraco, provavelmente até ao momento em que já será impossível sair dele. Ouvimos falar de Maniche, Petrovic, Evaldo, Boghossian,..... mas vendas, nada.
E ainda falta o plano desportivo. A equipa não é competitiva, não vai à Champions, e as vendas de jogadores necessárias para equilibrar as finanças são tão grandes que isso provavelmente faria a equipa desnivelar-se ao ponto de jogar para terminar a meio da tabela. A SAD nem sequer está numa encruzilhada. Já a passou, e escolheu o caminho mais complicado e tenebroso.
Há uma solução para o futuro: uma equipa de jovens ou experientes, mas baratos e de muito talento, orientados por um treinador de grande competência. Já foi assim, em tempos até não muito longínquos..... mas os adeptos gostam de nomes sonantes.
Benfica.
LFV enveredou por uma estratégia simples e publicamente assumida: não olhar para a deterioração das finanças do clube, em nome de um reforço capaz de reprojectar o clube ao nível europeu. A força mobilizadora do emblema seria suficiente para valorizar os jogadores, ainda que caros na aquisição, para recuperar o investimento.
O tempo dirá se a estratégia tem fundamentos sólidos ou não. Mas eu, pessoalmente, não tenho dúvidas que o mercado português é demasiado exíguo, desprovido do poder de compra necessário, e por isso incapaz de suportar uma lógica destas, mesmo que levada a cabo pelo clube com mais sócios e simpatizantes internamente. Mas, se isso não for um argumento convincente, eu aponto então para a inevitabilidade da estratégia estar condenada a passar de "questionável" a "decididamente perigosa" quando tomada numa época de crise profunda a nível mundial.
Volto a referir que os alertas foram mais do que muitos, nomeadamente de que a maior parte dos clubes europeus está, igualmente, sem dinheiro. E precisam igualmente de vender para sobreviver. Já os clubes que endinheirados, naturalmente vêm disponíveis uma série de excelentes jogadores a bons preços. Não é à toa que Mourinho diz "Di Maria sim, mas se for a um preço acessível".
Bom, mas com isto a questão do Benfica ainda vai a meio. Tenho imensas dúvidas que as contas ainda sejam adequadamente reparáveis, mesmo com a materialização das propostas que sistematicamente a imprensa desportiva nacional atira para a mesa, e que depois LFV vem desdenhar. Isto, porque, os jogadores com que o Benfica aparenta poder encaixar verbas significativas são precisamente aqueles que depois não corresponderão a um encaixe de idêntico valor para os cofres do clube. É que, ao contrário do que muitos ainda acreditam, não há poços de petróleo na Luz, nem o governo angolano é avalista do clube. E, para certificar isso, basta recordar medidas como a venda de parte dos passes destes jogadores aliciantes ao Benfica Stars Fund, assim como a reestruturação financeira de Dezembro último que envolveu o estádio. Tudo, para chegarmos à data de hoje com meros 5 milhões de CP positivos, quando a reestruturação financeira havia dado um balão de oxigénio equivalente a 28 milhões de CP positivos no final do 2º trimestre. Para quem não se lembra, o motivo foram as compras de Inverno.
Para rematar, eu também não me acredito que LFV venda sem comprar. Os adeptos do SLB não convivem bem com "downgrades" dos plantéis. Assim como os do FCP, ou os do SCP. Aliás, esse é precisamente o código genético deste problema. Ninguém tem coragem de fazer "downgrades".
Resumindo, o Benfica está numa encruzilhada. A mesma que o Sporting já passou. Só que ainda não se definiu para que lado vai à conta de um momento de respiração dado pela conquista do título e das inúmeras "notícias" da centena de milhões de euros de vendas que daí brotaram.
Só o Porto se parece ir safando. Mas também não sorriam ainda os seus adeptos, pois será positivo se daqui a 2 anos este clube for o único capaz de ter um plantel a competir na Europa, por força dos grandes de Lisboa terem que se reequilibrar para, lá está, poderem inscrever-se na UEFA. Isso significaria seguramente uma desvalorização da competição e, naturalmente. do próprio FCP.
Tantas vezes tenho vindo a alertar para este verdadeiro pesadelo no qual estamos a entrar, agravado pela factual crise económica e financeira em que o país já mergulhou. Os programas noticiosos só falam de crise, mas os programas desportivos só falam de arbitragens e dinâmicas de treinadores. Até parece que dinheiro não é problema e o futebol está imunizado com uma receita secreta da multiplicação monetária.
E ninguém conta, nem conte, com o Estado para salvar SAD's pois, para além de imoral e ilegal, é impossível.
Como li há dias num jornal diário, o futebol português parece o Titanic: está a afundar-se, mas a banda continua a tocar.
Porto: "Pelo que nos habituamos a ver, o FC Porto não deverá desperdiçar os bons negócios de vendas de passes que surgirem, e não entrará em loucuras nas aquisições."
Benfica: " E precisam igualmente de vender para sobreviver. Já os clubes que endinheirados, naturalmente vêm disponíveis uma série de excelentes jogadores a bons preços. Não é à toa que Mourinho diz "Di Maria sim, mas se for a um preço acessível"."
Resumindo, o Porto que fica em 3º e vai à Liga Europa vai conseguir fazer boas vendas, o Benfica que foi campeão e vai à Lida dos Campeões não consegue fazer boas vendas.
Bela análise que aqui vai...
Como sempre em vez de verem o que realmente vai mal, só vêem a clubite. É triste porque se as pessoas estivessem mais atentas ao que se passa nos seus clubes se calhar não os deixavam chegar a estas míseras condições. Mas o tempo virá a dar razão a quem não olha cegamente para o mundo do futebol.
Para além que este comentário é parvo, porque o Porto tem uma imagem cimentada na Liga dos Campeões e não é um visitante ocasional, como o Benfica.
Eu acho que o post do AF está excelente, ele sabe bem do que fala, por isso pedi para ser ele a postar sobre as contas, nem sequer noticiei os resultados...