Chega ao fim mais um Mundial de futebol, o primeiro em solo africano, o primeiro a ter como vencedor a Espanha.
Comecemos pelo principal, e por o pedestal que qualquer selecção sonha atingir, o de campeão mundial. Penso que, apesar de ter perdido o jogo inaugural, e de ter sentido algumas dificuldades contra o Paraguai ou ainda o Chile, é inteiramento justo dizer que “Nuestros Hermanos” mereceram o título. Foi menos exuberante que no Euro 2008, prova disso são os oito golos marcados em sete partidas (pior marca de sempre dum campeão mundial), mas recompensou tudo isso com identidade e um modelo de jogo reformulado, muito inspirado no Barcelona de Guardiola.
Já a Holanda, pode-se dizer que foi um digno vencido, apesar de ter feito muito anti-jogo e ter protagonizado alguns lances bem feios ao longo do jogo da final. Apesar de ser sempre apontada como uma das favoritas ou possíveis outsiders nas competições em que participa, tenho vindo a constatar que ninguém acredita na Holanda, e que o facto de a colocarem no lote dos melhores posicionados a conquistar os troféus deve-se pura e simplesmente ao respeitado passado da Laranja. Logo por aí, o facto de os holandeses chegarem à final já constitui uma surpresa enorme. Mas Sneijder, Robben e companhia, não conseguiram contrariar o passado e morreram uma vez mais na praia. Já é terceira vez que os holandeses falham na hora H.
Mas o maior presente que o Mundial deu ao mundo do futebol foi o “renascimento” do Uruguai. Comandada por Diego Forlán, a Celeste Olímpica chegou com garra às meias-finais, e mostrou ter uma grande selecção, que combina juventude com experiência, e que acima de tudo parece dar algumas garantias para o futuro.
Seria injusto se não falasse na Alemanha. Alemanha que aplicou 3 goleadas, e que chegou às meias fruto duma selecção jovem e audaz, que demonstrou uma grande personalidade, e ainda grandes promessas, como por exemplo: Khedira, Özil, e Muller, o jovem de apenas vinte anos, que além de ter sido considerado a revelação da prova, acabou por conquistar também a bota de ouro.
Entrando no campo das desilusões, temos obrigatoriamente de falar dos finalistas de 2006. A Itália, sem Pirlo e com uns avôs lá pelo meio simplesmente não existiu, e por isso a sua participação ficou-se pela fase de grupos. Já se percebeu que é necessária uma renovação, mas a questão que se coloca, é se há matéria para realizar essa renovação. Prevejo uma fase negra para os transalpinos. Já a França foi o “bombo da festa”, porque de facto não se percebeu ao certo o que quis fazer o treinador. Embora ache que colocar a Inglaterra no mesmo saco em que os anteriores seja excessivo, Fábio Capello desiludiu aqueles que acreditaram que ele poderia afinar os ingleses, que no entanto acabaram cilindrados pela “Mannschaft”.
Foi um Mundial razoável. Os quatro semifinalistas destacaram-se pelo futebol positivo e colectivo, enquanto o futebol poltrão do Brasil e da Inglaterra, por exemplo, foi castigado. É verdade que foi dos torneios com menos golos, no entanto em termos de qualidade de jogo, penso que tivemos perante bons espectáculos. Espectáculos esses que foram melhorando com o desenrolar da prova, depois duma primeira fase em que imperou o medo. A América do Sul chegou aos quartos-de-final com quatro das suas cinco equipas, mas acabou por perder o fulgor para a Europa que na recta final acabou por levar a melhor. A Ásia pode-se dizer que cumpriu, e como era de esperar, a África mostrou que ainda tem muito que caminhar e as selecções, à excepção do Gana, que se começar a libertar do nervosismo que as atormenta, pois o talento está lá. Quanto às selecções da quase esquecida Oceânia, fizeram um Mundial dentro das suas capacidades, causando pelo meio algumas surpresas, e dando a conhecer ao mundo uma notória evolução.
No campo individual constatamos que os médios se destacaram mais que os avançados, e que as estrelas de quem mais se esperava acabaram por desiludir. Citando alguns exemplos, Rooney e Ribéry pagaram os erros tácticos que os seus treinadores montaram, Anelka e Ronaldo mostraram-se mais disponíveis para ser o problema e não a solução, e até o próprio Messi, fora uma jogada ou outra esteve sempre a milhas da baliza e nem o gosto ao pé fez. Mas não se pense que o golo é tudo, porque para além de Ronaldo, também Eto’o, Drogba e até Di Natale não conseguiram apagar as suas más prestações com remates para o fundo das redes, remates esses que acabaram por ser como uma areia no deserto. Claro que há as excepções, desde já o “Bota de Ouro” Forlán, jogador que apesar de ter créditos firmados acabou por surpreender com a sua disponibilidade e sentido de oportunidade. Villa mostrou o porque de ter sido contratado pelo Barça, Klose voltou a transcender-se e ficou a apenas um golo de igualar Ronaldo “Fenómeno” no topo da lista de marcadores em Campeonatos Mundiais. E ainda Tévez ou Higuaín, certamente não foi por eles que a Argentina não foi mis longe. Menção honrosa para os menos conhecidos Honda, Vittek e Asamoah Gyan.
Mas quem deu mesmo nas vistas foram os médios. Desde Sneijder, que esteve fantástico, não só na África do Sul, mas durante toda a época, e que conseguiu transformar a Holanda em finalista, a Iniesta e Xavi, passando pelos mais defensivos Schweinsteiger (uma adaptação de sucesso) e Khedira, Busquets, Brandley e Van Bommel, terminado em Özil, que juntamente com o fantástico Muller foram na minha opinião as grandes revelações da prova. No capítulo das revelações, há ainda espaço para fazer referência a Fábio Coentrão, André Ayew, Elia.
E como o Mundial não se joga apenas dentro das quatro linhas, acho por bem fazer uma breve referência à organização positiva da prova, e ainda às grandes transmissões televisivas a que tivemos acessos, com repetições bastante elucidativas, as reacções dos intervenientes e os fantásticos “slow motions”.
Apesar de tudo que se foi falando, antes e durante a prova, tivemos um bom Mundial, com toda a paixão e emoção que lhe estão associados. Daqui a quatro anos há mais.
Que tempo extraordinário para ser LEÃO!
Há 2 dias
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