Começo esta crónica afirmando que as coisas não acontecem por acaso e como tal, esta eliminação de Portugal frente à Espanha, campeã da Europa, não é de estranhar. Perdoem-me os mais sensíveis, mas o facto de passarmos aos "oitavos-de-final" já pode ser encarado como positivo, tendo em conta o nosso real valor actualmente, mas sobre isso falaremos lá mais para a frente.
Começando então pelo princípio, a escolha de Queiroz para suceder a Scolari nunca me agradou, fiz questão de sublinhar isso mesmo, logo quando este foi anunciado para o cargo. Na minha opinião, actualmente Queiroz não reúne todos os requisitos para orientar uma equipa de grande nomeada, pelo menos não como técnico principal. Quanto muito, talvez nos escalões de formação, uma vez que é forte ao nível da formação de jovens e aí não coloca a nu algumas das suas fragilidades, nomeadamente no que à liderança diz respeito. Onde também poderá triunfar, é como elemento de retaguarda, ao nível da planificação, organização e preparação do treino, tal como fazia em Manchester, aqui sim, acredito que esteja a sua real capacidade, assim como por exemplo poderia ser o coordenador do futebol da selecção, passando por ele todas as decisões dos vários escalões, nomeadamente a escolha do treinador para cada escalão, assim como o modelo jogo a trabalhar, etc. Tudo isto tendo em conta, que iria haver uma forte reestruturação no futebol da selecção e assim sim, acredito que o futuro podia vir a ser muito risonho.
Voltando ao futebol jogado, e passando então pela fase de qualificação para o Mundial da África do Sul, onde diga-se em abono da verdade, tivemos um grupo bastante acessível, mas tivemos o condão de complicar, defrontámos então: Malta, Albânia, Hungria, Suécia e Dinamarca, todos eles adversários perfeitamente ao alcance, mas ainda assim vimo-nos "gregos" para passar e foi necessário recorrer ao play-off. Qual terá sido a razão de tanta dificuldade para nos apurarmos?
Na crónica do João Vasco Nunes, ele defende que não houve o pós Scolari, eu sou obrigado a concordar. Faltou construir uma equipa, de modo a facilitar o seu sucessor.
Na passagem do técnico brasileiro pelo comando da selecção portuguesa, houve várias coisas positivas, à sua maneira claro está, mas houve e muitas agradaram ao povo em geral. O reunir das tropas, quer ao nível dos adeptos, como dos jogadores, foi por ventura a maior força de Portugal, a isto podemos aliar ainda a opção de manter-se relativamente neutro nas disputas internas do futebol português. Portugal esteve então nas fases finais do Euro 2004 (aqui éramos o país anfitrião), Mundial 2006 e Euro 2008, tendo conseguido boas prestações em todas as provas e na minha opinião, ao contrário do que já li, não foi fruto da chamada "geração de ouro", essa terminou em 2002. Em 2004 e a muito custo (foi preciso perder o primeiro, jogo frente à Grécia para fazer as devidas alterações), Scolari lá se rendeu ao excelente trabalho efectuado por Mourinho no FC Porto, usando então a "espinha dorsal" dos azuis e brancos, incutindo aqui e ali algum do seu cunho pessoal. Pode perguntar-se então, é isto que é trabalhar? Eu respondo, da seguinte forma, a Espanha (e outros já o fizeram) não o faz de momento (aproveitando as bases do Barcelona)? O tempo para trabalhar não é muito, pelo que aproveitar o bom trabalho efectuado nos clubes pode ser uma preciosa ajuda, aliando então as ideias pretendidas. Para tudo isto, Scolari fez o "mínimo" que é exigido, fez as suas escolhas em termos de "plantel" e foi promovendo algumas estreias na equipa A, mas faltaram outras coisas, tal como já foi referido. Resta agora saber, se quando foi contratado, lhe foi pedido mais do que ele fez. É certo e sabido, que Scolari não iria ficar uma eternidade à frente da selecção portuguesa e no que aos restantes escalões diz respeito, apenas pareceu que houvesse alguma proximidade com a equipa de sub21. Resultado, as selecções mais jovens tiveram os piores resultados que tenho memória. Devido a este insucesso, também é natural que agora falhem algumas alternativas em certas e determinadas posições, pois faltou preparar o futuro.
Para fechar o seu ciclo no comando de Portugal, Scolari, que até aqui tinha tido boas prestações em fases finais das provas (final Euro 2004 e meias-finais Mundial 2006), borrou então a pintura, anunciando em pleno Euro 2008 que iria para o Chelsea, isto em vésperas de um jogo importante frente à Alemanha. Falou-se então de alguma instabilidade no ceio do grupo (algo difícil até então) e Portugal viria então a ser eliminado nos quartos-de-final.
Scolari abandonava então a selecção portuguesa, para trás ficava um 2º lugar no Euro 2004, o 4º no Mundial 2006 e no Euro 2008 ficávamos pelos quartos-de-final. Bons resultados sem dúvida, mas faltou preparar terreno para quem vinha a seguir.
Madaíl procurou então um sucessor para o "Sargentão", é aqui que voltamos à fase inicial do post, Queiroz foi então o escolhido e a campanha de apuramento deixou muito a desejar. Ainda que tenha algumas atenuantes, custa a engolir as exibições pouco conseguidas durante essa fase, o mesmo aconteceu nos jogos particulares, onde as prestações foram paupérrimas e até nestes jogos, onde podíamos solidificar ideias, continuou-se a fazer experiências umas atrás das outras, algumas delas com jogadores cujo nível deixa muito a desejar. Entretanto e a muito custo, lá conseguimos o apuramento para a África do Sul, mas e qualidade exibicional? Infelizmente poucas foram as vezes em que ficámos satisfeitos, eu pelo menos falo por mim. Nem sequer um modelo de jogo temos implantado a 100%, vamos mudando em função do adversário...
Bem, continuando, conseguimos então o passaporte para o Mundial e entretanto foram conhecidas as escolhas de Queiroz, novamente a merecer algumas críticas. Desde logo saltou à vista a quantidade de jogadores defensivos e mais tarde, o Mundial encarregou-se de explicar o porquê. Haviam dúvidas em relação a alguns jogadores e Queiroz adoptou uma postura mais defensiva, não sendo por isso de estranhar, que as críticas à selecção portuguesa chovessem de todo o lado. Frente à Costa do Marfim, foi notório o medo de arriscar, pois importante era não perder o primeiro jogo. Depois seguiu-se a frágil selecção da Coreia, que depois de uma primeira parte muito fraca, lá embalámos para a maior goleada da prova. No último jogo da fase de grupos, frente ao Brasil, tivemos novamente medo e jogámos para o pontinho, com todas as preocupações e mais algumas. Podíamos perfeitamente ir em busca da vitória, sendo que ainda tínhamos a vantagem de ser necessário um "tremor de terra" para não nos apurarmos. Conclusão, tivemos medo de ser felizes e por isso tivemos aquilo que merecemos, apanhámos pela frente a Espanha. Tudo bem que não era certo que a Espanha fosse primeira, mas havia uma grande probabilidade de o ser. Chegado então a esse grande jogo dos oitavos-de-final, onde novamente jogámos em função do adversário, com uma postura ultra-defensiva, podemos então dar graças a Deus por termos perdido só por um, tantas foram as oportunidades de golo claras da Espanha, valeu-nos Eduardo... Pelo meio e mais uma vez, Queiroz voltou a dar mostras de uma má leitura de jogo. Refiro-me claro está à substituição de Hugo Almeida, mais tarde às restantes, que deixaram muito a desejar e até aqui tivemos medo de correr riscos... Já nem falo (muito) da inclusão de Pepe a pivot... Foi por aqui que raramente conseguimos sair com sucesso para as transições ofensivas, é que o primeiro passe raramente saiu, a partir daí...
Pelo meio desta participação no Mundial da África do Sul, ficou bem à vista um dos principais problemas de Queiroz, a liderança, ou melhor, a falta dela. Foram declarações polémicas em força, seguidas depois de comunicados ridículos...
Por último umas breves palavras sobre Cristiano Ronaldo. Nunca deveria ter sido nomeado capitão de equipa, pelas razões que nem vale a pena descrever. Queiroz podia ter mudado? Poder, podia, mas não seria fácil, até porque acho que não tinha "força" para isso. Fácil foi dar-lhe a braçadeira, tirá-la é que vai ser difícil...
Quanto ao seu rendimento, aqui o caso já muda de figura. Como já referi, na minha opinião não temos um modelo de jogo definido, muitas vezes mudamos em função do adversário, acrescentando a tudo isto que o colectivo simplesmente não funciona, como poderá então Cristiano Ronaldo brilhar? É que ainda por cima temos um seleccionador ao geito de Maradona, ou seja, ponham lá a bola que alguém resolve, neste caso o CR... É tão simples quanto isto, as individualidades resolvem, quando o colectivo lhes proporciona! A qualidade está lá, ou então como explicam o seu sucesso no Manchester e agora no Real Madrid? Não acontece só porque sim, assim como não será só pela qualidade dos seus companheiros de equipa, também ele tem imensa qualidade e por isso não é à toa que é um dos melhores do Mundo, com a bola nos pés, claro está.
E o futuro o que nos reserva? Na memória ficou-me esta declaração do nosso seleccionador, em vésperas do jogo frente à Espanha: "O melhor Portugal ainda está para vir". Se era aquele que vimos frente à Espanha... Talvez seja melhor em 2012 ou 2014, mas eu não acredito, pelo menos não nestes moldes e cá estarei para me dar o braço a torcer se estiver enganado...
Nota: Peço desculpa pela demora do post. O mesmo poderá sofrer alguma alterações, pois nem sempre conseguimos exprimir da melhor forma aquilo que pensamos. Quanto a comentários, venham eles, o que se pretende é uma troca de ideias, de forma a podermos debater um assunto, que tem a sua cota parte de delicado. De uma interessante troca de ideias, poderia até sair um bom plano para o futuro da selecção portuguesa.
Este Di Maria.....
Há 12 horas
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